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Epílogo Alternativo


POR GIU SIMIONATO


Seis meses depois 

Addie


Chego ao estacionamento da escola, ajeitando a mochila nas costas e procurando entre os alunos espalhados pelo jardim. Assim que vejo o que procuro, me aproximo. Lotus e Kenzie me esperam perto da porta. Assim que chego, vejo a segunda sorrir — Lotus não é dada a sorrisos.

Depois que denunciamos Nathaniel, a história acabou vazando. Kenzie foi tratada como pária e acabou se aproximando de nós.

Pensei por muito tempo em hostilizá-la como ela fez comigo, mas compreendo. Afinal, eu quase matei a outra mulher na vida de Nathaniel. Imagino que, entre as opções, fiquei com a parte mais fácil. E considerei que deixar de ser a pessoa mais popular da escola era consequência suficiente pelo que ela fez.


O time de futebol passa por nós, parando perto das garotas populares, mas Hudson não se aproxima delas. Em vez disso, para para nos cumprimentar. Nosso relacionamento é estranho. Culpo ele por ter me abandonado depois de tudo que aconteceu, mas, quando eu realmente precisei, ele estava lá.

Desde então, tem tentado compensar. Está mais atento, mais preocupado. Gosto de ser mimada por ele — me faz lembrar de quando ele ainda era responsável pelas borboletas no meu estômago.


Quando estamos os quatro na porta, decidimos entrar. A primeira aula é matemática. Sentamos nas primeiras cadeiras e aguardamos enquanto a Sra. Callahan — antes Sra. Bennet — termina o que fazia em sua mesa. Ela voltou a usar seu nome de solteira depois do divórcio.

Divórcio compulsório, afinal Nathaniel fugiu para não ser preso por pedofilia. Ainda não encontraram o rastro dele, e não sei se encontrarão. A Sra. Callahan não parece preocupada com a volta dele. E isso me diz algo.

Confesso que penso nessa possibilidade com ambivalência. Um dia pedi ao Hudson para me levar de volta à plantação de abóboras, e o buraco estava fechado. Não fui eu quem fechou.


Dói um pouco pensar que ele pode estar naquele buraco. Mas hoje eu sei o que realmente aconteceu entre nós.


Hudson acha que, naquela noite, sofri mais uma das “brincadeiras” abusivas das populares e, por isso, parou de falar com elas. Aceitou Kenzie, já que ela supostamente se recusou a participar. Deixei que ele acreditasse na conclusão a que chegou sozinho. Para quê adicionar mais um assassinato à lista que ele carrega?


A Sra. Callahan ergue os olhos do papel que analisava e sorri para mim.

É estranho vê-la sorrindo, ainda mais para mim. Mas, depois que descobriu o que aconteceu comigo e com Kenzie, passou a se sentir um pouco culpada e assumiu nossa tutela pedagógica. Assim que denunciamos, outras meninas também vieram à tona. Agora temos um grupo de adolescentes abusadas.

Nos reunimos uma vez por semana para conversar sobre como aceitar, dentro de nós, que não era amor — era abuso. A própria Eve fala da dificuldade de aceitar que ela também passou por isso.


Desde que nos unimos, ela tem sido menos dura, menos rígida. Com o apoio dela e do Hudson, consegui finalmente passar em matemática — o que, por si só, já é um bônus.

Lotus e eu estamos à frente da revista de poemas. No ano que vem, quando ela se formar, eu serei a nova presidente.


Uma batida na porta nos faz olhar. Ela se abre, e o Sr. Tuttle entra.

Na noite em que denunciamos Nathaniel, pedi ajuda à detetive Sprague para consertar um dos meus maiores erros. Fiz um anúncio público na reunião de pais, explicando que o professor Tuttle estava, na verdade, tentando me ajudar a entender os abusos que eu vinha sofrendo. Não foi isso, mas foi mais convincente que a verdade, por fim.

Com a fuga de Nathaniel, a fama de pedófilo o seguiu e o Sr. Tuttle voltou à escola como herói.

Naquele momento, ele deixa um garoto — que tentava fugir da aula de matemática — nas mãos da Sra. Callahan, que manda o menino se sentar e começa a aula.


Kenzie e eu fazemos questão de estarmos juntas em todas as aulas. É difícil estar sozinho no ensino médio. Ser hostilizado por todos é terrivelmente traumático. Mas, juntas, temos mais apoio e nos sentimos melhores.


Ao fim do período, saímos e vemos o carro do tio de Hudson esperando no meio-fio. Hudson perdeu a carteira provisória quando foi multado naquele dia em que me buscou na plantação de abóboras.


— Quer carona? — ele pergunta. Eu aceito. Caminhamos juntos até o carro e vemos a Sra. Callahan vindo na mesma direção, com um sorriso no rosto.

O tio de Hudson desce do carro e sorri para nós dois.


— Ei, Jay!

— Ei, Jay!

— O que é isso? — pergunto, rindo.

— JANKOWSKIS!

— JANKOWSKIS! — os dois dizem rindo, antes de se abraçarem. Então vejo o tio de Hudson olhar para a Sra. Callahan com verdadeira adoração.


Os dois aparentemente se conheceram na loja de sapatos onde ele trabalha. É compreensível, considerando a obsessão dela por sapatos. Acho que vê nele um bom investimento — talvez pelo desconto de vendedor.


O tio de Hudson mora com a irmã e o cunhado, o Sr. Jankowski. Desde que foi abandonado pela esposa, ajuda a irmã com o bebê pequeno, já que Hudson diminuiu os dias livres por causa do futebol.

Mas eu desconfio que a mãe de Hudson vai ter que começar a se virar sozinha, porque o irmão dela está olhando para a Sra. Callahan como quem tem muitos planos de longo prazo.

E ela merece, no fim das contas. Nem todo mundo sobrevive a duas tentativas de homicídio. Sou grata por ela não ter morrido.


Jay me deixa na porta de casa antes de deixar Hudson.

— Tchau, Jay — me despeço.

— Tchau, Sra. Callahan — futura Sra. Jankowski.


E assim vou para casa, com minha mãe me esperando de braços cruzados. Ela tem me vigiado de perto desde que tudo aconteceu.

Acho que ela sabe que tudo o que dissemos foi verdade. E que eu tive muita sorte.



 

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